"momentos certos"
ter discos novos para ir ouvindo e descobrindo é maravilhoso. discos, mesmo. objectos. coisas de agarrar com as mãos, de sentir o peso, a textura, a forma. abrir e folhear, ler títulos, letras, fichas técnicas e só pôr a tocar quando acho que é "o momento certo". de manhã ou de noite, quando tenho um tempo que é mesmo só meu, com tempo pela frente, sem aquele rótulo de prazo de validade que quase todo o tempo traz cravado na pele. há momentos, do dia ou da noite, que parecem poder ser eternos, têm esse sabor da memória pressentida, do que vamos talvez poder guardar para sempre, do que queremos poder salvar de um tempo que apaga e rasga tanto de nós. alguma desta música é de guardar assim.
não conhecia nenhum dos músicos e bandas que fizeram estes discos. um amigo deu-mos a conhecer agora, há uns dias. já ouvi o que está na fotografia, do Sufjan Stevens, que se chama "Illinoise" e é muito, muito bonito.
ontem vi o último videoclip do David Fonseca no site dele www.davidfonseca.com e está altamente! já me tinham dito que era muito bom. tem fotografias do Augusto Brázio e, por coincidência, eu tenho andado a ler um livro do Eduardo Prado Coelho que se chama "A razão do azul" e tinha acabado de ler um texto onde ele fala de uma exposição de fotografia do Augusto Brázio em Coimbra realizada há um tempo. o texto chama-se "Lugares que já são outros lugares" e diz assim: " O olhar parou - mas onde? (...)uma cidade não são apenas as paisagens da rua, os monumentos, os sítios ritualizados, mas é também, mas é sobretudo, uma estranha e indefinível relação entre corpos e espaços, entre afectos e formas, entre lágrimas e luzes." e depois diz ainda, sempre acerca das fotografias desta exposição, que "se trata de um olhar nas margens ( das margens sobre as margens ) de uma cidade(...)." a margem está no "recorte de luz, que cria insistentemente o pressentimento de outro espaço". o videoclip tem talvez também um bocadinho de tudo isto, a cidade a ser essa "indefinível relação" entre corpos, espaços e afectos e alguém em lugares de passagem, à procura. desta vez, não "nas margens", mas no centro do pressentimento de outro "alguém". gostei mesmo.